A discussão sobre linguagem (não) sexista e a respeito de ativismo linguístico não é nova. Se recuperarmos seu histórico, podemos ir ao século 18, quando Olympe de Gouges propôs a Declaração dos Direitos das Mulheres, com o argumento de que elas não se sentiam incluídas com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, e também em contraposição à tradição gramatical francesa, conforme Borba (2020) e Lopes (2021). No Brasil, essa discussão é “recente”, inicialmente no espaço da academia, no âmbito do feminismo. Todavia, nesses últimos anos, no ativismo transfeminista, a reivindicação por uma linguagem não-binária ganhou popularidade e chegou ao debate público, mobilizando inclusive o poder legislativo brasileiro, que vêm propondo decretos que visam proibir o uso do “gênero neutro” na esfera escolar e na administração pública. É nesse cenário de disputas linguístico-ideológicas que nos propomos a refletir acerca de possibilidades e implicações políticas do uso dessa linguagem na escrita acadêmica, numa maneira de afronta queer/cu-ir às normatividades/normalidades de língua e de corpos em nossa cultura. O estudo dialoga com Carvalho (2021), Bagno (2019), Borba (2020), Fabiano (2004; 2020), Lagares (2018; 2020), Moita Lopes (2013), Melo (2021) e Santos Filho (2015; 2020), dentre outras reflexões, e argumenta que usar a linguagem não-binária na escrita acadêmica é atuar para provocar urgentes desestabilizações de sentido, atuando na microfísica das tramas de forças do dizer científico, de modo a reconhecer todes