As fronteiras entre a linguística e a literatura parecem se aproximar quando analisadas pela perspectiva da comunicação social. Bakhtin, Medviédev e Volóchinov proporcionam as bases teóricas para o estudo das relações semânticas que estruturam o enunciado na vida e na literatura. Este artigo tem como objetivo investigar relações dialógicas entre a história de Penélope, de Homero, e o conto “A moça tecelã”, de Marina Colasanti, à luz da teoria de Bakhtin e Círculo. A investigação enfoca a valoração ao redor do conceito de felicidade, presente em nossos objetos. A partir da análise apresentada, notamos que a posição do autor criador no conto de Colasanti se constrói a partir da resposta ativa ao texto de Homero. No conto, a palavra alheia é assimilada, elaborada e reacentuada. Nesse processo, o conto evoca vozes sociais de seu horizonte ideológico contemporâneo a fim de incorporar o discurso emitido por Homero em estado de contrapalavra. O estudo reitera o caráter artístico do enunciado literário em estreita relação com as esferas cotidianas da existência, assim como demonstra as relações dialógicas que entretecem sentidos no grande tempo.